terça-feira, 29 de novembro de 2016

Anjo de sangue


Todos nós buscamos segurança, estabilidade, mas acima de tudo o amor. Alguns o negam, outros o mascaram em forma de jogos de manipulação acreditando que se trata simplesmente de “que vença o mais forte”.
Poucos são os que ainda dão valor ao nobre sentimento, e esse era o caso de Amanda, meiga, doce e tímida, sempre que se aproximava de alguém que a interessava, seu rosto corava no mesmo instante.
Nesta noite ela se arrumava com um capricho especial, escolhia suas melhores roupas e acessórios. Iria sair com Ana para dançar e se divertir. No seu íntimo, sempre trazia a ideia de encontrar alguém, quem sabe um anjo a encantasse, era o que se passava em sua mente romântica. Por mais que sua amiga a dissesse que esses lugares não eram para achar alguém assim, ela sempre mantinha a esperança acessa.
            Às vinte e três horas, as duas saíram da casa de Amanda empolgadas e sorridentes. Havia um brilho diferente naquela noite, uma sensação estranha no ar como se o mundo andasse descompassado e isso acelerava o coração das duas.
O lugar escolhido era bem frequentado, elas viam pessoas lindas e bem vestidas entrando.
Escolhemos o lugar certo! Reparou Amanda.
Tenho certeza. Concordou Ana.
A música era algo que empolgava, as bebidas eram bem elaboradas, via-se que eram feitas por uma excelente barmaid. As duas se aproximaram do balcão e cada uma pediu uma bebida. Amanda pediu um Blue Lagoon e Ana uma Piña Colada.
Minha cor favorita. Sorriu Amanda ao pegar a bebida.
A noite corria bem, já era madrugada, perto das três da manhã. A maior parte das pessoas já estavam altas, e o bar ainda estava lotado, pois o calor era intenso naquela noite. A atenção de Amanda se voltou então para uma turma formada por três moças e três rapazes, com uma aparência que os destacavam de todos os que estavam ali. Estavam extremamente bem vestidos, altos e de uma beleza estonteante. Um deles era loiro de cabelos cacheados e olhos azuis. Amanda ficou hipnotizada com a beleza dele e não conseguia disfarçar.
Vê aquele rapaz Ana?
Sim, muito bonito.
Muito, nossa!
Ele está te olhando.
Impressão sua.
Está sim, repare.
Ele deve estar acompanhando alguma das meninas.
Não parece. Se estivesse não estaria simplesmente conversando, e sim perto ou abraçado.
Os dois então começaram o flerte, trocavam olhares, ambos cada vez mais interessados. Quando Amanda pensou que ficariam apenas entre troca de olhares, ele se aproximou dela:
Aceita uma bebida?
Ela um pouco encabulada, mas impressionada pela beleza dele, resolveu aceitar.
Qual seu nome? Perguntou ele.
O rapaz tinha um ar sedutor, que era irresistível.
Meu nome é Amanda e o seu?
Túlio. O rapaz passava a mão pelos cabelos de Amanda. Gosto de cabelos como os seus, longos cacheados e de um marrom lindo.
Obrigada.
Amanda já tinha corado no instante em que ele se aproximou, e agora seu rosto queimava. Ana resolveu sair um pouco e deixar a amiga aproveitar, quem sabe algum amigo dele poderia se interessar por ela.
Túlio pegou a bebida que havia escolhido e entregou-a a Amanda. O sorriso dele era impressionante, e ela estava enfeitiçada com tanta beleza.
Espero que esteja de seu agrado Kenix?
Meu nome é Amanda!
Eu sei disso. Disse esse nome por ser o nome de uma guerreira muito antiga de tempos imemoriais, famosa por seus feitos e sua beleza.
Sério! Como ela era? Amanda mostrava-se cada vez mais interessada na conversa, e aproveitava com isso para manter o rapaz mais tempo com ela.
Linda assim como você.
Amanda sentia-se lisonjeada em ser comparada com alguém tão imponente assim.
Do outro lado do bar, Ana começou a reparar no comportamento um pouco estranho por parte dos amigos de Túlio. Os olhos deles deixavam escapar um brilho muito forte, como os olhos de um felino, era um brilho que vinha e voltava. Aquilo começava a dar medo, e de muito belos passaram a assustadores. Parecia que olhavam as pessoas como um animal que olha a sua presa, realmente não estava com uma boa impressão.
Ana via a amiga empolgada com o rapaz. Ele segurava a nuca de Amanda, que um pouco encabulada aceitava as investidas dele.
Você é alto e forte. Elogiou, Amanda um pouco tímida.
Você gosta?
Muito.
Vamos sair dar uma volta, ir para um lugar mais tranquilo?
Amanda já não tinha mais controle de suas ações, parecia enfeitiçada. Ana percebeu isso, e tentou segurá-la para que não fosse, mas Amanda não respondeu, ela estava com os olhos fixos, como se estivesse realmente hipnotizada. De repente, Ana descuidou-se um pouco e acabou por perder a amiga de vista. Meia hora depois, ela viu Túlio na companhia dos amigos e foi até ele.
Viu Amanda? Achei que estivesse com você?
Ela me disse que ia embora.
Ela nunca iria sem mim!
Vou me encontrar com Marcus. Apontava o rapaz para um aglomerado de pessoas. - Se achá-la me avise, também fiquei preocupado.
Túlio seguiu em direção às pessoas que havia mostrado, ele sorria com um ar sarcástico. Entrou no banheiro mais afastado, e assim que se sentiu seguro e que ninguém o veria, saiu, mas sob outra forma. Ele na verdade Marcus, que se fez passar por Túlio.
O verdadeiro Túlio estava na rua andando atrás de Amanda, ele a influenciava a procurar um lugar tranquilo, e a não sentir medo. Assim que encontraram um beco, Túlio a induziu a entrar. No mesmo instante a fisionomia dele começou a mudar, garras apareciam no lugar das unhas, os olhos passavam a ter um brilho muito mais intenso. O sorriso dele se transformava em algo tão sombrio que causaria medo a qualquer pessoa, menos a ela, pois não estava mais no controle de sua mente e corpo.
Você é linda!
Enquanto isso, Ana continuava procurando pela amiga, mas sem êxito. No fim da noite viu Túlio novamente.
Onde está Amanda?
Não sei! Estou tão curioso quanto você. Disse ele sorrindo, limpando as mãos com um guardanapo.
Ana achou o comportamento dele estranho, resolveu então procurar a amiga pelos arredores. Andava preocupada sem saber onde encontrá-la, quando se aproximou de um beco teve a impressão de vê-la entrando. Apertou o passo atrás da amiga, e assim que entrou, um grito alto foi ouvido pelas pessoas que moravam ao redor. Imediatamente várias pessoas se aproximaram de Ana, que via o corpo da amiga estendido no chão.

Pouco depois policiais e a família chegaram ao local. Ana estava transtornada pelo acontecido e não conseguia entender. Lembrava-se dos olhos e do modo estranho de Túlio e seus amigos. Tentou falar sobre isso, mas foi ignorada por todos. A única coisa que os médicos e policiais disseram, foi que Amanda havia sido atacada por um cachorro muito grande, provavelmente o mesmo que havia escapado de um canil próximo.

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